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sexta-feira, 11 de maio de 2012

Artigo: Santa Clara, sinal de comunicação

Artigo: Santa Clara, sinal de comunicação - Jean, Deilher, Fr. Donizetti e Gustavo


Santa Clara: sinal de comunicação

            Em todo o decurso da história, nunca se valorizou tanto a comunicação quanto o período em que vivemos. O que não significa que esta é feita e exercida de forma plena. O que se parece é que vivemos muito mais na era da informação do que da comunicação; uma vez que a verdadeira comunicação passa pelo pressuposto do conhecimento formulado a partir do “destrinchamento” e verificação das múltiplas informações as quais temos acessos, de maneira dialógica, partilhada, onde a fala e a escuta, o dedicar-se ao tema, ocupam um lugar de fundamental importância.
            Tal constatação se evidencia mais fortemente, quando nos deparamos com um mundo que valoriza o instantâneo, o imediato, onde o tempo se torna propriedade do mercado da informação, que surge com tamanha fluidez, sem se preocupar se a anterior foi digerida. É o mundo da constante novidade, da busca desenfreada pelo progresso; com a qual, diga-se de passagem, a natureza tem sofrido muito.
Neste ensejo é interessante observar um paradoxo que se estabelece: o mundo da informação só atinge seu objetivo se esta informação é propagada, divulgada; porém, ao se perceber o casamento perfeito entre informação e tecnologia, o acesso àquela só é possível por aqueles que têm maiores condições de posse material dos artefatos tecnológicos, de maneira progressiva; fazendo com que o seu ambiente acabe se tornando restrito. Isso não quer dizer que a informação não chegue às camadas mais populares, mas sim que não chegam na atualidade e no modo em que aparecem, gerando uma população atrasada, alienada e manipulada. A busca desenfreada pelo novo, pelo porvir, unida aos novos modelos de linguagem dominadora e sem se preocupar com a verdadeira comunicação, faz com que criemos, cada vez mais, uma sociedade pautada no isolamento e no individualismo.
Desta forma, conceber Santa Clara como sinal de comunicação, em nossos tempos, se torna verdadeiro testemunho de uma espiritualidade que não está presa ao passado, mas que tem muito a oferecer ao ser humano de hoje. Uma espiritualidade atual, profética.
Desta forma, é interessante também observar outro paradoxo que se instaura ao perceber Santa Clara como sinal de comunicação: como uma monja, bem situada em seu mosteiro, que busca o distanciamento do mundo secular para maior intimidade com Deus, pode ser sinal de comunicação?
            Se formos observar a etimologia da palavra comunicação, encontraremos que esta vem do latim comunicatio, que quer dizer “ato de repetir, de distribuir”, literalmente “tornar comum”, de communis, “público, geral, compartido por vários”. Assim, se quisermos levar ao mais profundo do mistério cristão a palavra comunicação, perceberemos que ela tem seu ponto máximo pautado na comunhão; ou seja, o testemunho máximo de uma vida dialógica, de verdadeira intimidade com o “tema” proposto e seu anúncio, que transcende a mera informação, um mero contar um evento, da Boa Nova do Evangelho, que não diz nada na realidade de seus convivas, para encontrar seu ponto máximo num testemunho de vida transformada e encarnada nessa boa notícia que faz com que aqueles que estão à sua volta, se encontrem também neste mistério e queiram partilhar, participar ativamente desta verdadeira comunicação.
            Clara é sinal vivo desta comunicação. Em seu mosteiro, na pequena São Damião, estabeleceu relações de diálogo, de encontros... enfim, relações fraternais tais que seu exemplo transcendeu as estruturas de seu mosteiro e foi para o mundo. Sua vida foi verdadeira comunicação de um Cristo que está vivo, Ressuscitado, presente em nosso meio, e quer nos fazer uma proposta de amor, a fim de gerar um mundo mais justo, fraterno, onde a comunicação se estabeleça como modo eficaz de concretização do Reino de Deus, onde o ser humano encontra sua plenitude ao se encontrar intimamente imerso na divindade.