Santa
Clara: sinal de comunicação
Em todo o decurso da história, nunca
se valorizou tanto a comunicação quanto o período em que vivemos. O que não
significa que esta é feita e exercida de forma plena. O que se parece é que
vivemos muito mais na era da informação do que da comunicação; uma vez que a
verdadeira comunicação passa pelo pressuposto do conhecimento formulado a
partir do “destrinchamento” e verificação das múltiplas informações as quais
temos acessos, de maneira dialógica, partilhada, onde a fala e a escuta, o
dedicar-se ao tema, ocupam um lugar de fundamental importância.
Tal constatação se evidencia mais
fortemente, quando nos deparamos com um mundo que valoriza o instantâneo, o
imediato, onde o tempo se torna propriedade do mercado da informação, que surge
com tamanha fluidez, sem se preocupar se a anterior foi digerida. É o mundo da
constante novidade, da busca desenfreada pelo progresso; com a qual, diga-se de
passagem, a natureza tem sofrido muito.
Neste ensejo é interessante observar um
paradoxo que se estabelece: o mundo da informação só atinge seu objetivo se
esta informação é propagada, divulgada; porém, ao se perceber o casamento
perfeito entre informação e tecnologia, o acesso àquela só é possível por aqueles
que têm maiores condições de posse material dos artefatos tecnológicos, de
maneira progressiva; fazendo com que o seu ambiente acabe se tornando restrito.
Isso não quer dizer que a informação não chegue às camadas mais populares, mas
sim que não chegam na atualidade e no modo em que aparecem, gerando uma
população atrasada, alienada e manipulada. A busca desenfreada pelo novo, pelo
porvir, unida aos novos modelos de linguagem dominadora e sem se preocupar com
a verdadeira comunicação, faz com que criemos, cada vez mais, uma sociedade
pautada no isolamento e no individualismo.
Desta forma, conceber Santa Clara como sinal
de comunicação, em nossos tempos, se torna verdadeiro testemunho de uma
espiritualidade que não está presa ao passado, mas que tem muito a oferecer ao
ser humano de hoje. Uma espiritualidade atual, profética.
Desta forma, é interessante também observar
outro paradoxo que se instaura ao perceber Santa Clara como sinal de
comunicação: como uma monja, bem situada em seu mosteiro, que busca o
distanciamento do mundo secular para maior intimidade com Deus, pode ser sinal
de comunicação?
Se formos observar a etimologia da
palavra comunicação, encontraremos que esta vem do latim comunicatio, que quer dizer “ato de repetir, de distribuir”,
literalmente “tornar comum”, de communis, “público, geral, compartido por
vários”. Assim, se quisermos levar ao mais profundo do mistério cristão a
palavra comunicação, perceberemos que ela tem seu ponto máximo pautado na
comunhão; ou seja, o testemunho máximo de uma vida dialógica, de verdadeira
intimidade com o “tema” proposto e seu anúncio, que transcende a mera
informação, um mero contar um evento, da Boa Nova do Evangelho, que não diz
nada na realidade de seus convivas, para encontrar seu ponto máximo num
testemunho de vida transformada e encarnada nessa boa notícia que faz com que
aqueles que estão à sua volta, se encontrem também neste mistério e queiram
partilhar, participar ativamente desta verdadeira comunicação.
Clara é sinal vivo desta comunicação.
Em seu mosteiro, na pequena São Damião, estabeleceu relações de diálogo, de
encontros... enfim, relações fraternais tais que seu exemplo transcendeu as
estruturas de seu mosteiro e foi para o mundo. Sua vida foi verdadeira comunicação
de um Cristo que está vivo, Ressuscitado, presente em nosso meio, e quer nos
fazer uma proposta de amor, a fim de gerar um mundo mais justo, fraterno, onde
a comunicação se estabeleça como modo eficaz de concretização do Reino de Deus,
onde o ser humano encontra sua plenitude ao se encontrar intimamente imerso na
divindade.
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